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O futuro do programa espacial brasileiro

Todos aqueles que minimamente acompanham as atividades do programa espacial brasileiro sabem dos problemas constantes que este sofre com escassez de recursos e descontinuidade de projetos estratégicos. Um caso importante de interrupção ocorreu em 2015, quando o Brasil denunciou unilateralmente o acordo firmado com a Ucrânia para o desenvolvimento do foguete Cyclone-4, lançado a partir da Base de Alcântara para fins comerciais. O projeto prometia não somente inserir o Brasil no competitivo mercado de lançadores de satélite de grande porte, mas também revitalizar a mais estratégica base de lançamento que possuímos, fora de atividade desde o acidente de 2003, que vitimou mais de 20 técnicos e especialistas e praticamente encerrou o Programa de Veículo Lançadores de Satélites (VLS).


Acidente de Alcântara, a maior tragédia do programa espacial brasileiro (https://goo.gl/TX1qHw)


Somados a esses fatos, a atual restrição orçamentária estabelecida pelo governo federal para o setor de ciência, tecnologia e inovação nos faz crer que não há esperança para a atividade espacial brasileira. Porém, em meio à crise, há algumas boas notícias que merecem destaque. A mais recente ocorreu no dia dia 04 de maio deste ano, quando o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação Estratégica (SGDC) foi lançado com sucesso da base de Korou, na Guiana Francesa. Após sucessivos adiamentos, devido a uma greve que paralisou as atividades da base, o lançamento foi bem-sucedido em colocar o satélite em sua órbita de destino.


Satélites geoestacionários - ou geossincronizados - são sistemas posicionados a uma altitude de 36 mil km, onde a velocidade de órbita é igual à velocidade de rotação da Terra. O resultado é um artefato que estará sempre posicionado sobre um mesmo território na superfície do planeta, o que é ideal para atividades de comunicação. No caso do SGDC, sua cobertura compreende todo o território brasileiro e suas faixas de transmissão são a banda Ka, que é capaz de fornecer internet em banda larga para regiões distantes do país, e a banda X, destinada para comunicação das Forças Armadas. O tempo de vida útil do satélite é previsto para ser entre 15 e 18 anos, e estão planejados mais dois lançamentos da mesma família de satélites, em 2022 e 2027.


SGDC sendo embarcado no Antonov-225 rumo à base de Korou (https://goo.gl/5TIF3R)


A pesquisa de base e o setor privado


Tendo em vista a dimensão do território brasileiro e a demanda crescente de uma estrutura de comunicação e transmissão de dados cada vez mais eficiente, os benefícios práticos trazidos pelo SGDC são evidentes. Porém, nem de projetos práticos vive um programa espacial. É importante que a pesquisa básica (aquela que não traz resultados econômicos no curto prazo) seja também contemplada, como nos projetos de pesquisa astrofísica e de observação astronômica.


Nesse sentido, uma iniciativa formada por alunos e professores de universidades e centros de pesquisa brasileiros tem por objetivo lançar a primeira sonda lunar do país. A missão Garatéa-L enviará um nanossatélite à Lua em 2020 por meio de um lançador da Agência Espacial Europeia (ESA). Seu objetivo é realizar experimentos microbiológicos que verifiquem os efeitos da radiação cósmica em tecidos vivos, bem como realizar um voo rasante para observação da bacia de Aitken, no polo sul lunar, uma região com grande potencial de recursos necessários para uma possível missão tripulada de longo prazo em nosso satélite natural.


Sonda Garatéa, rumo à Lua em 2020 (https://goo.gl/8mgSIs)


O objetivo da missão é criar uma cultura espacial na sociedade brasileira, ao envolver um grande número de instituições públicas e privadas, além da população em geral. Além disso, essa missão visa a avançar e consolidar nossa capacidade tecnológica para realização de missões espaciais de grande complexidade, condição necessária para países que desejam manterem-se competitivos na economia do século XXI.


Portanto, ainda que o orçamento público continue a ser a principal fonte de financiamento de projetos espaciais no Brasil, não é somente para ele que devemos olhar quando tentamos entender qual o destino o Brasil pode seguir rumo ao espaço. Como vimos em uma postagem anterior, companhias comerciais estão cada vez mais interessadas nas atividades espaciais. Não há porque o Brasil não trilhar o mesmo caminho.

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